Em torno de Pessoa

    Poema que escrevi em torno de uma admirável quadra de Fernando Pessoa a propósito de um conto que estou a escrever. A quadra dele é para mim evidente qual é, visto que todo o resto do poema é uma tentativa de elevar essa quadra mais alto, só conseguindo construir um suporte que acho que não o engrandece. A quadra magnânima dele é a do moinho de café. Tudo o resto é meu, mas em torno de Pessoa, levado por ele a imaginar como poderia ele escrever outras quadras fosse não só aquela linda quadra estar sozinha.


Exercício Pessoano 


O alambique de aguardente

Destila bagaço e faz dele ouro.

O ouro líquido que não mente

Que torna tudo nada duradouro.


 A trituradora de tabaco 

 Desfaz folhas e faz dele fumo.

 O fumo da memória qu’ataco

 Que da treva escura exumo

    

 O moinho de café

 Mói grãos e faz deles pó.

 O pó que a minh’alma é

 Moeu quem me deixa só.


 Absorto no Martinho da Arcada 

 Trago um cigarro e no meu café um cheiro

 Entrevejo, ao longe, uma saia encarnada

 Traço de ti, cedo por inteiro

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