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A mostrar mensagens de maio, 2023

Um Homem Tranquilo - John Ford

     É muito estranho que este filme tenha sido feito. E é estranho não porque é antigo, não porque é datado, o filme não tem um senão: é tão estranho assim porque nos afastámos tanto de um mundo em que filmes destes existam e sejam feitos e também porque não parece o seguimento da História. Seja do cinema, seja dos costumes, seja do que for que este mundo é e que este representado no filme não tem.      O antónimo de mundo é imundo. E neste filme é tão claro que este do filme é um verdadeiro mundo, impoluto, casto mesmo no vício e na errância.       O filme começa por um homem regredido à infância. E volta a casa. E depois eles vêem-se. Pode dar a impressão ao ver o filme que acontece um “amor à primeira vista” entre os dois protagonistas. Não creio em nada que possa sustentar-se por um olhar mágico. Acho mesmo que esse olhar mágico, quando se se apoia muito nele, acontece porque, no fundo, a relação tem pouco em que se sustentar. E não é o caso. Ou nunca é o caso. E esta relação é ci
O dia de hoje é cinzento Como podia não ser? Tem cravado um lamento E uma mãe manda chover Oh, Nohinha... A quem o evoca A lágrima boa Logo convoca  E da vista coa Não há sol  Não há Noah Resta-nos o sal Que nos abençoa

Os pássaros e os velhotes

Há coisas que se mantêm de geração para geração. Ver isso em prática trouxe-me tranquilidade. Cresci a ver velhotes a darem comida a pássaros. Quando era miúdo e assistia a isto, o velho que vi hoje dar comida a pássaros tinha 40 como eu agora.  Ele tem agora 70 e dá também comida a pássaros, como esse velho de 70 que assisti dar comida a pássaros há 30 anos.  Se transpusermos isto para tantos actos, tradições, vontades, traz-me uma grande tranquilidade. Também porque sinto que o mundo está a mudar muito à minha volta. Mas há muita coisa que não muda. Os pássaros todo o dia, nas traseiras de minha casa, esperam pacientemente pelas migalhas do almoço, do lanche, do jantar do velhote. Pássaros pequenos, maiores e maiores ainda, todos esperam pacientemente por estes velhotes. Os vindouros pássaros filhos dos pássaros filhos dos pássaros, nas traseiras da minha casa, algures na minha cidade, esperarão pacientemente por mim, quando tiver 70 anos, para lhes dar migalhinhas do meu lanche. Lá