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Vertigo (de Alfred Hitchcock) e M.

Revi este filme há uns anos na esplanada da Cinemateca. Uns idiotas riam-se, achavam a música piegas, tudo piegas. Irritou-me solenemente. Não entender a fragilidade da personagem central deste filme é não perceber a nossa própria fragilidade. E não perceber isto é não perceber nada. Um homem apaixona-se. Um homem perde em circunstâncias tenebrosas a amada. O homem tem uma segunda oportunidade. E desta vez ela morre de facto. Quantas vezes numa vida podemos renascer de situações destas? Poucas. Acontece-lhe um milagre. E depois o milagre é-lhe sonegado. É a maior das tragédias. E a música, que aqueles idiotas acharam piegas, é, para aqueles que acompanham a história de facto, apenas as notas do sentimento desbragado, do que tem de invisível, do que roda no coração, do que se irradia quando estamos apaixonados.  Hitchcock não era um homem romântico. Se havia coisa que ele queria era ter para si as actrizes todas que passaram pelos filmes dele, se há coisa que se vê nos filmes dele é iss

Hitchcock e Lynch

O que é que têm Alfred Hitchcock e David Lynch em comum? Ambos se debruçam sobre o horror. Pegando neste filme de Hitchcock em vídeo representado, North by Northwest, e no filme Blue Velvet, de David Lynch, ambos falam de uma aparente normalidade visitada pela bizarria para depois nos devolverem uma nova normalidade. Mas no caso de Hitchcock, nunca essa bizarria vence sobre as suas personagens, pois elas saem sempre mais fortes. E há uma ideia que prevalece nos filmes de Hitchcock, a ideia de que o amor dá um sentido à vida, e que quando ela parece ter menos sentido, o amor aparece como apaziguador e reconfigurador da vida. Em Lynch, a normalidade é devastada pelo grotesco e nunca mais volta a ser a mesma. Em Blue Velvet, o mal vence. E não é por acaso que no fim do filme, vemos um pássaro a comer um insecto e nos é dada a ideia de que a vida é bela também por isso. Como se a bizarria fizesse parte do belo, ou o Diabo tivesse alguma coisa a dizer sobre o bem. Mas não. O belo é o oposto