Hitchcock e Lynch



O que é que têm Alfred Hitchcock e David Lynch em comum? Ambos se debruçam sobre o horror. Pegando neste filme de Hitchcock em vídeo representado, North by Northwest, e no filme Blue Velvet, de David Lynch, ambos falam de uma aparente normalidade visitada pela bizarria para depois nos devolverem uma nova normalidade. Mas no caso de Hitchcock, nunca essa bizarria vence sobre as suas personagens, pois elas saem sempre mais fortes. E há uma ideia que prevalece nos filmes de Hitchcock, a ideia de que o amor dá um sentido à vida, e que quando ela parece ter menos sentido, o amor aparece como apaziguador e reconfigurador da vida. Em Lynch, a normalidade é devastada pelo grotesco e nunca mais volta a ser a mesma. Em Blue Velvet, o mal vence. E não é por acaso que no fim do filme, vemos um pássaro a comer um insecto e nos é dada a ideia de que a vida é bela também por isso. Como se a bizarria fizesse parte do belo, ou o Diabo tivesse alguma coisa a dizer sobre o bem. Mas não. O belo é o oposto da bizarria e não pode contê-la. Opõe-se à bizarria. O bem nunca é contaminado pelo mal, ou não o será. 

Em Lynch somos destruídos. Em Hitchcock ele fala-nos sempre de um sonho recorrente que ele tem, o célebre boy meets girl. E é só disso que ele quer falar. Por isso, acho que Psycho é um filme àparte da obra de Hitchcock, juntamente com The Rope. Em ambos ele queria derrubar expectativas dos espectadores quanto à narrativa e à técnica. As histórias em ambos os filmes ganham um tom mais negro. Como uma travessura que uma criança faz, Hitchcock diverte-se nesses filmes em assustar o espectador. Mas não são esses os filmes definidores, no meu entender. North by Northwest sim. E Blue Velvet para Lynch também.

Comentários

  1. Muito bem observado. Há realmente uma "complementaridade" entre os dois génios.

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