Vertigo (de Alfred Hitchcock) e M.

Revi este filme há uns anos na esplanada da Cinemateca. Uns idiotas riam-se, achavam a música piegas, tudo piegas. Irritou-me solenemente.
Não entender a fragilidade da personagem central deste filme é não perceber a nossa própria fragilidade. E não perceber isto é não perceber nada.
Um homem apaixona-se. Um homem perde em circunstâncias tenebrosas a amada. O homem tem uma segunda oportunidade. E desta vez ela morre de facto. Quantas vezes numa vida podemos renascer de situações destas? Poucas. Acontece-lhe um milagre. E depois o milagre é-lhe sonegado. É a maior das tragédias.
E a música, que aqueles idiotas acharam piegas, é, para aqueles que acompanham a história de facto, apenas as notas do sentimento desbragado, do que tem de invisível, do que roda no coração, do que se irradia quando estamos apaixonados. 
Hitchcock não era um homem romântico. Se havia coisa que ele queria era ter para si as actrizes todas que passaram pelos filmes dele, se há coisa que se vê nos filmes dele é isso. Hitchcock era um homem da carne. Não idealizava o amor. E muito por isso, só por isso mesmo, era capaz de encontrar situações em que o homem que ele queria ser tinham para si as suas musas. Como isso não tinha raiz na realidade, expandia-se na fantasia. Fantasia carnal. 
E é aqui que encontro um paralelo meu com ele. As mulheres estimulam-me a espiritualidade. E porque as quero.  
E a M. exacerba tanto esse meu lado, porque a quero tanto, que só posso achar que encontrei a certa.
 

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