Sobre as nossas limitações

         

Quero falar sobre o que nos é proibido.


O que eu queria dizer é que nestas coisas que nos limitam as possibilidades de acção, o mais difícil de tudo é aceitar a própria limitação. Eu posso passar uma vida inteira sem comer, sei lá, avelãs, mas se me disserem que não posso comer avelãs a minha vida inteira, então só quero avelãs. E o que eu tenho a dizer é: avelãs não são assim tão boas. É a "satisfação" de comer uma coisa que me é proibida que é boa. É fome do proibido.


Assim como não pode existir vida sem a possibilidade de suicídio e sem a possibilidade de morrer, não podemos viver sem a possibilidade de provarmos o proibido ou de alguma coisa nos poder ser proibida. Não podemos viver provando a morte, mas podemos prová-la uma vez. Se é que a provamos. E é engraçado... Quase toda a gente aceita essa suprema limitação, de que não podemos provar a morte e continuar vivos.  


Mas já as avelãs? As pequenas coisas que nos são proibidas? São muito mais difíceis de não provar de quando em quando. E as avelãs são proibidas a todos, só nem todas se chamam avelãs, têm outros nomes. E há uns quantos sortudos que passam a vida sem comer avelãs sem saber que lhes sempre foi proibido. E há outros tantos que simplesmente nem têm essa fome. 


Não estou a dizer com isto tudo que devemos fingir que não existe essa fome. Enchermo-nos de vida como se ela houvesse sem essa fome. Seria o caminho para a perdição. O importante perceber é que essa fome é insaciável, infindável, eterna. E perceber isso é saciarmo-nos dela um bocadinho, com vida, já que com morte só a recrudescemos.

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