O gordo vai à baliza

 Hoje ouvi uma frase sábia dita no seguimento de uma conversa que por ter seguido como seguiu e acabado lapidarmente com esta frase, deu-lhe uma profundidade gigante. A frase é "Não podemos ser quem não somos", dita por Natalia, mulher de Soljenítsin. E acrescentaria que não podemos pedir a ninguém que seja algo que não é. E isto vale para tanta coisa. 

E há pouco estive a ler um justiceiro, falar sobre tanto tema da actualidade, tipificando o "tuga" como o estúpido comezinho que só sabe ver e falar de bola, pouco mais para além disso. Farto de justiceiros. Farto dessa ideia colectiva do que é o português, Portugal não é senão uma ideia colectiva da qual faço parte no particular. Partir do colectivo para o particular-colectivo tipificando o português só lhe retira toda a complexidade. 

Tou farto da simplificação para chegar a um argumento, para facilitar uma ideia. Temos de ser particulares. Temos de não ter medo de sermos particulares. E sim, sob pena de ninguém nos entender. E sim, sob pena de nos confundirmos. 

Se há coisa que um puto português da minha geração fazia, gostando ou não, era jogar à bola. Esquecemo-nos disso? Que a bola é transversal a todos os putos portugueses? Caguei para quem ia à baliza, caguei para quem levava com as boladas, para quem não conseguia marcar golos, para quem era escolhido em último na formação das equipas, caguei para todos esses que se estão a tentar vingar em adultos dessa gente que jogava melhor à bola que eles, gente que, no fundo, no fundo, salvou-os um pouco de um estado depressivo e desarticulado que se agravaria. 

Um puto português da minha geração quereria, se pudesse, ser jogador da bola. Ponto final. Não me venham com merdas. Com abstrações da tanga, que só querem dizer isto: Tu ias à baliza.

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