OH, FADO! SO NICE!
Engraçado isto. Até há pouco tempo, uma tez como a minha era suficiente para afastar um alemão, um inglês, um americano, etc. Um “pástéle de bacálau”, num esforço heróico de ajustamento vocal à língua do estrangeiro, dito a um deles pelo tasqueiro quando lhe perguntava o que era apontando para o pastel, bastava para afastar qualquer tipo de esperança de vir a comunicar por terras lusas. Era insuficiente para afastar outros que se estavam a lixar para isso, que só queriam tentar a sorte, mas esses não vinham, porque não haviam os alemães, os ingleses, os americanos. Neste momento, a minha tez não é suficiente para os afastar, porque não vêm sozinhos. A minha língua pouco importa porque inglês é a língua franca. Vêm apesar de mim. E nisto está o lisboeta, agrilhoado à solta, como num safari. Os animais do safari sabem que estão num safari? Somos um espectáculo para quem apanha um avião. Somos uma curiosidade. Somos um motivo de caça. Somos motivo de caridade.
Um amigo meu dizia num optimismo desmedido que é preciso abraçar a mudança por si só tem um aspecto positivo. Quando a minha língua, que é a minha pátria - coisa em que coincido com Pessoa -, morrer, morre tudo em mim e à volta de mim. Quando na minha cidade eu for mais estrangeiro do que o estrangeiro, morre tudo em mim e à volta de mim. E cada vez mais estranho tudo isto e menos estranham isto os estrangeiros.
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