Zorba, O Grego


    Passa-se numa ilha, Creta, em que os intervenientes são bem demarcados, o povo comporta-se como povo estanque, comportamentos em uníssono sempre. Só umas poucas personagens são caracterizadas. O terreno é árido. Tudo ali tem pouca vida. E o mar que circunda a ilha asfixia o espectador. Zorba, o grego, podia estar ali como podia estar em qualquer sítio, porque vai aonde a vida o leva. O inglês que lá vai, vai porque não importa onde está, nunca vive lugar nenhum. O inglês não vive. Vive na redoma em que os livros o cobrem. Zorba tira-lhe os olhos dos livros. E tentam um feito em conjunto.
    Com este filme, não é suposto passar-se um bom bocado. Como digo, tudo é árido. Não há nada verde. Nem as árvores são verdes. Tudo está sempre quente. O que o filme quer dizer talvez seja que a vida é árida e que enquanto vamos em direcção ao fim, que arrisquemos viver, que arrisquemos tentar. Mesmo que falhemos. Tentar de novo. Que não nos resta senão tentar. Uma e outra vez. Que a vida não tem nada a ver com ser bem sucedido ao tentar. Tem tão só e apenas a ver com tentar. E que enquanto não se tenta, não se vive.
    Pois bem. É tudo verdade, parece-me.
    O filme é também cruel. Faz lembrar um outro filme, “Bruscamente no Verão Passado”, numa história paralela. A da viúva nova. Que é cobiçada por todos os homens naquela povoação. E que morre assassinada por um dos homens que a cobiça. À semelhança do outro filme, a mulher funciona como uma luz que atrai insectos. No outro filme, é um homem, não fosse o escritor Tennessee Williams. Se a luz que atrai os insectos pudesse ser devorada pelos insectos, não seria? A cegueira com que os insectos são atraídos por ela, não é suficientemente convincente de que seria? E depois de devorarem a luz, os insectos não procurariam por uma outra qualquer, porque não é a luz que os chama, é a cegueira? Pois que como os insectos procuram cegamente luz, os homens procuram cegamente o que cobiçam. E devoram.
    O filme não pretende dizer que isso é definidor da humanidade.
  O filme pretende ensinar a dançar. E acaba assim, numa dança. No que dança tem de bom, de exorcizante. No final do filme, somos convidados a dançar, a soltar-nos, como se solta o inglês, que pede a Zorba para o ensinar a dançar, dançando juntos depois. Porque depois de vermos o que é a vida, como o que o filme pretende ser, uma lição, eles comem, eles bebem e eles dançam, conjecturando o futuro. Restaurar forças, turvar a razão e soltar-se, de olhos postos no futuro, para tentar novamente, tentar sempre, porque isso é tão e só o mesmo que viver. E eles estão vivos.

 

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