O Ventura é ditador

A coisa que mais me deu asco que o Ventura disse pode ser uma surpresa para alguns, já que ele prima por aí. A coisa que mais me deu asco foi ele ter descrito a pessoa que recebe este subsídio como a pessoa que o gasta em uísque e tabaco e drogas, como se fosse uma coisa reprovável e sobre a qual se queira ter controlo. E a coisa que mais me deu asco não tem nada a ver com ser a favor ou contra gastar o dinheiro que se recebe em uísque ou tabaco ou drogas, tem a ver com alguém querer limitar a liberdade de alguém gastar o dinheiro que tem em seja o que for o que lhe dá na real veneta. Isto deve enfurecer qualquer pessoa.
Penso, como oposição a isto, no filme de João César Monteiro, em que a personagem João de Deus, ao receber uma quantia choruda oferecida por um louco, que, por ser em dinheiro vivo, torna-se a maquia ainda mais pujante, diz, sinceramente e malandro, que a vai gastar mal gasta. Engraçado que nunca até hoje tinha pensado nisto como mais do que uma piada. E no filme é o que consegue: uma gargalhada. Mas há muito mais nisto. Há muito de liberdade. O dinheiro oferece a possibilidade de o gastar mal gasto. Tirar ao dinheiro a possibilidade de o gastar mal, de o limitar no que compramos, é retirar a capacidade sonhadora do dinheiro. Quem nunca numa mala cheia de dinheiro, que vemos nos filmes de roubos a bancos, por exemplo, viu nela um sem fim de possibilidades? Quem nunca nela viu um fim aos nossos problemas? Tanto o vemos numa mala cheia como numa pequena nota de 5 euros. É a capacidade de o dinheiro se renovar e de ser perpetuamente possibilidade de obtenção.
É a coisa do dinheiro. Serve para desaparecer e reaparecer. Serve para gastar. Sem controlo.
Seja em uísque. Seja em tabaco. Seja em drogas.
O Ventura quer ser ditador.

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