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A mostrar mensagens de novembro, 2024

Saudade Que Temos (Fado)

Saudades, só os portugueses Conseguem senti-las bem Porque têm essa palavra Para dizer que as têm. Disse o invejoso Ali mesmo em Belém "Nada tem de milagroso No que 'Saudade' atém" Desdiz, irrespeitoso O que não vê além "O assunto é piroso É só um entretém" Saudades, só os portugueses Conseguem senti-las bem Porque têm essa palavra Para dizer que as têm. Concluiu o piroso Como ela há mais cem Maneiras de saudoso Dizer que se está sem Entendo bem a dor Do cotovelo advém Mal o luso com amor Alude que a tem Saudades, só os portugueses Conseguem senti-las bem Porque têm essa palavra Para dizer que as têm Já é coisa que maça Que o faça alguém Que um daqui o faça Não percebe ninguém Mas seja estrangeira A pessoa desdém Têm doutra maneira O Pessoa porém Saudades, só os portugueses Conseguem senti-las bem Porque têm essa palavra Para dizer que as têm. Quadra Refrão: Fernando Pessoa As outras: Tiago Galvão Lucas Reparei no fim que o escrevi era um fado, deve s...

Estranha o Estranho

Diz o mestre: 1.⁠ ⁠A única realidade social é o indivíduo, 1.⁠ ⁠A única realidade social é o indivíduo, por isso mesmo que ele é a única realidade. O conceito de sociedade é um puro conceito; o de humanidade uma simples ideia. Só o indivíduo vive, só o indivíduo pensa e sente. Só por metáfora ou em linguagem translata se pode aludir ao pensamento ou ao sentimento de uma colectividade. Dizer que Portugal pensa, ou que a humanidade sente é tão razoável como dizer que Portugal se penteia ou que a humanidade se assoa. 2.⁠ ⁠Sendo o indivíduo a única realidade social, não é todavia o único elemento social. Esse indivíduo vive em dois meios ou ambientes — um o ambiente físico, outro o ambiente social, ou sociedade. É esse o valor do elemento sociedade — é o meio, um dos meios, em que o indivíduo vive. O sábio realismo de Aristóteles viu isto bem; e assim se assentou a tese política grega — que a sociedade existe para o indivíduo, que não o indivíduo para a sociedade. Sendo o indivíduo a únic...

Sobre a Direita das Novas Certezas

     O espírito da democracia é de esquerda. Foram concessões das direitas à esquerda para não se redundar em guerras incessantes, foi o meio encontrado pela esquerda para legitimar as suas pretensões, são concessões da esquerda à direita e da direita à esquerda para não se redundar em autoritarismos. No caso português, acontece isto claramente. Quem de direita tinha também de dizer "pá" para ser ouvido. O nosso paradigma é de esquerda. E isto está a mudar. O novo punk é um miúdo de direita. A direita está na moda. Ser careta é ser de esquerda. Ser mesmo muito punk é ser chegano.      Tudo bem com isto. Os miúdos têm a resposta na ponta da língua a todas as respostas da esquerda para desmontar uma notícia. Têm sempre a resposta na ponta da língua para desmascarar sobretudo uma coisa: que a esquerda está à deriva. E que eles têm onde atracar.      E aqui é que entra o meu problema. Eu ao contrário de muita gente, estou bem a lixar-me ...

O Sentido das Coisas

Quando o silêncio da noite sublinha a noite Quando a noite escurece o dia e escureço um pouco Quando o céu acarvoado não chove e desaba depois Quando se mostram as estrelas num dia no campo  Quando a água do mar baptiza o pecado Quando o sol encarniçado aquece a pele Quando numa igreja o som é milenar e sinaliza o agora Quando chegamos a casa depois de estar fora e a casa é casa e fora é o que isso não é Quando uma palavra é palavra e Deus que era o verbo, o verbo que era Deus.