Sobre a Direita das Novas Certezas
O espírito da democracia é de esquerda. Foram concessões das direitas à esquerda para não se redundar em guerras incessantes, foi o meio encontrado pela esquerda para legitimar as suas pretensões, são concessões da esquerda à direita e da direita à esquerda para não se redundar em autoritarismos. No caso português, acontece isto claramente. Quem de direita tinha também de dizer "pá" para ser ouvido. O nosso paradigma é de esquerda. E isto está a mudar. O novo punk é um miúdo de direita. A direita está na moda. Ser careta é ser de esquerda. Ser mesmo muito punk é ser chegano.
Tudo bem com isto. Os miúdos têm a resposta na ponta da língua a todas as respostas da esquerda para desmontar uma notícia. Têm sempre a resposta na ponta da língua para desmascarar sobretudo uma coisa: que a esquerda está à deriva. E que eles têm onde atracar.E aqui é que entra o meu problema. Eu ao contrário de muita gente, estou bem a lixar-me para o meu vizinho. Aquele que me é estranho normalmente, salvo raras excepções a quem chamo os meus amigos, estou-me bem a lixar para ele. E desejo muito ardentemente que se mantenha assim: estranho a mim. Eu, ao contrário de muita gente, não acredito em grandes fins para a humanidade. E chateia-me bastante que me venham dizer que a solução é esta ou aquela. Pelo que esta direita toda que se está a formar falha já em princípio: acredita nos mesmos mecanismos para resolver a trapalhada que é ser humano através de gente que vai falhar da mesma maneira que todos os que se propuseram a resolver o problema de viver em sociedade.
Eu não quero atracar. Eu não quero ir para uma ilha e recomeçar tudo de novo. Eu não quero conhecer ninguém. Não há nada de novo para começar. Isto é tudo antigo. É tudo transitório também. Somos antigos em sermos transitórios. Eu não quero sentir nenhuma aspiração a resolução porque não há nada a retirar do passado da humanidade a não ser o seguinte: isto é tudo transitório.
Por isso digo: Venha uma alternância esquerda para direita, PSD para PS, mais 50 anos, porque nisto tem uma grande sabedoria: que em nenhum político devemos acreditar. Não porque mente ou coisa que o valha. Só porque é político, só porque não há no que acreditar. Não temos solução então finjamos que são estes, os que mantêm o seu status quo, a sua paz podre, e não outros que dizem ser diferentes que são no fundo piores porque têm de cumprir as expectativas de quem acredita neles.
Acreditar na humanidade? É atirarmo-nos para um abismo sem fim, embora sempre em queda, e sempre firmes na certeza de que, embora em queda, embora a velocidade do corpo nos esteja a encaminhar sem dúvida para um embate, que no fim da queda, não embateremos, porque voaremos. Não voaremos nunca. O nosso fim é ter um fim.
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