Conto em construção (II)

   


    Chegado ao quarto, tinha as cartas do tal Alexandre sobre a secretária. Pousou as malas, foi ver a revista de poesia da escola e confirmou que havia um rapaz que assinava com esse nome. Apressou-se a abrir as cartas. Na primeira que abriu estava a foto de uma bela rapariga. Dizia:

        “Pedro,

    Atrevo-me a escrever-te desde aqui de longe, e só assim me atrevo. Conheço de cor os teus versos. Sou uma profunda admiradora deles. Julgo conhecer de cor os teus olhos.

    Vi-te no Liceu sem nunca te conseguir falar.

    Sou eu Maria Alexandra Soares Paes (Alex Campos é o meu nome de pena), nascida em Lisboa, São Domingos de Benfica. Nasci temerariamente, mas boamente entrei neste mundo. Não julgo saber nada de nada. Vivo na angústia de ter de saber não sabendo. Assim me apresento a ti.

Sei que sou tua. Dispõe de mim como quiseres.

Alexis”

Era uma rapariga que se declarava. Abriu a segunda carta onde estava escrito:

“Pedro,

Soube que só lerás estas cartas lá para o final do Verão, o que aumenta consideravelmente a minha angústia. Para ti, escrevo estes versos:

 Num abraço, cingidos

 No meu corpo, enlaçado

 Há sinos de igreja tangidos

 Há um Destino traçado


 Reitero que sou tua, que só soube existir até te ver.

 Alexis”

Abriu a terceira e última carta que propunha encontrarem-se e pedia rogadamente que lhe fossem respondidas as cartas.

Pedro estava perplexo. Voltou a pousar a vista na fotografia da rapariga.

    (Que bela era). 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os pássaros e os velhotes

Zorba, O Grego