Mensagens

James Gray. Porque sim.

Imagem
  Conversa entre pai e filho, sendo eu a criança. - Filho, gostas do James Gray? - Gosto muito.   - Porquê, filho? - Porque sim. - Gostas dos filmes dele? - Muito. - Então e porque não vêem as pessoas os filmes dele? - Não sei. - Mas tu gostas. - Sim. Muito.  A força do "porque sim" duma criança é subestimada. É enorme. E eu gosto muito do James Gray. Porque sim.

Sou um livro aberto

     Sou um livro aberto      Sou um livro aberto com algumas páginas rasgadas,      á procura de quem me ajude a encontrá-las,      a encontrar-me,       a arrumá-lo,      a arrumar-me.

Prémio Nobel

Imagem
I Want You The guilty undertaker sighs, The lonesome organ grinder cries, The silver saxophones say I should refuse you. The cracked bells and washed-out horns Blow into my face with scorn, But it's not that way, I wasn't born to lose you. I want you, I want you, I want you so bad, Honey, I want you. The drunken politician leaps Upon the street where mothers weep And the saviors who are fast asleep, They wait for you. And I wait for them to interrupt Me drinkin' from my broken cup And ask me to Open up the gate for you. I want you, I want you, Yes, I want you so bad, Honey, I want you. Now all my fathers, they've gone down True love they've been without it. But all their daughters put me down 'Cause I don't think about it. Well, I return to the Queen of Spades And talk with my chambermaid. She knows that I'm not afraid To look at her. She is good to me And there's nothing she doesn't see. She knows where I'd like to be But it doesn't matt

Olivia de Havilland

Imagem
     O filme é o The Heiress (A Herdeira). É a preto e branco e é tão preto e tão branco. A protagonista é tão inocente numa primeira parte e tão amargurada numa outra. Mas mesmo muito inocente e mesmo muito amargurada. Conseguem imaginar isto? O vosso filho, neto mais inocente tornado amargurado? A vossa amiga de adolescência mais inocente? Tornada amargurada? Só os grandes vilipêndios provocam isto. Só as grandes tragédias.      A pessoa que quero evocar é a Olivia de Havilland, que morreu no ano passado, aos 104 anos. Que nesse filme batalha pelos inocentes e pelos amargurados. Pelos caídos em desgraça. E ela fá-lo com tanta nobreza. Com tanto amor por eles. E é por isso que durante todo o filme só a queremos ver. Não porque no filme ela é inocente, não porque no filme ela é amargurada. Só a queremos ver porque ela é a pessoa que está para além daquela história, porque ela é quem, através daquele meio, traz dignidade ao que é ser humano. E daí vem o amor pelos actores e actrizes. Po

A probabilidade do milagre

Imagem
          Hoje dizia-se que ia chover com mais de 90% de probabilidade. Fui passear e até chegou a fazer sol. Dizia que indubitavelmente entre as 10 e as 17 choveria. Não choveu. A probabilidade não fez nada pela velhota ganhar na roleta duas vezes seguidas no zero, na história O Jogador  de Dostoiévski. Nem por perder tudo de seguida.   A probabilidade rouba-nos a ideia impreterível de que o mais improvável é tão provável quanto o mais provável.   Prefiro acreditar em milagres. Peço-os às vezes. Peço mesmo. Não os controlo. Mas vejo-os acontecer. 

Glória

Imagem
 A morte (NÃO TE) há-de matar. A vida (NÃO) prossegue sem ti. É preciso (NÃO) aceitá-lo. Tem que haver um quanto de alma nisto, um quanto de pouco científico, um quanto de ignorância, qualquer coisa de imaterial (a matéria é tão pouca), qualquer coisa que não podemos saber com a razão.
Imagem
 Toda a minha vida foi só sonho. Por isso, não sei o que pareço aos outros. Porque eu sou só sonho. Sonhos meus que ninguém vê nem sente, a não ser eu. Os outros perceber-me-ão como alguém que fala durante o sono. Pouco sentido faz para elas. Eu faço pouco sentido. E no dia seguinte, quando acordo, perguntam-me o que sonhei. Porque ouviram isto e aquilo durante o meu sono. Mas quando é assim, nunca se acorda verdadeiramente. Eu sou só sonho.

Falar a mesma língua

Imagem
 Hoje lembrei-me do filme Ghost Dog do Jim Jarmusch. Lembrei-me dele a propósito da linguagem. De como a percepcionamos, de como ouvimos um som, de como o internalizamos e digerimos. No filme, há duas personagens que não falam a mesma língua mas comunicam-se. Não fazem esforço por cada um entender a sua língua, mas entendem-se. Só através do gesto. E nem estou a falar de um gesto óbvio como apontar ou mimicar. Não, eles entendem-se porque, como diz a expressão idiomática, "falam a mesma língua", e isto não tem nada a ver com língua. E se transpusermos isto para a vida, não teremos mais facilidade em encontrar alguém? Não alguém que fale na nossa língua, mas alguém que "fala a mesma língua".

Amor, ausência e Paris, no Texas

Imagem
 Li algures que nunca alguém será tão amado quanto será lamentada a sua ausência. Pensei no filme "Paris, Texas" como exemplo disso. Não revi o filme para dizer isto. Parece-me, do que me lembro, que a pessoa amada, Natassja Kinski, é vítima de um ciúme horrendo que nos diz que mesmo enquanto se amam a ausência se pode tornar insuportável e maior do que a própria fruição do amor. A ausência dela para ele é insuportável e leva-o a uma vida de indigência. No final do filme, percebe que o problema sempre foi a maneira dele de amar e retira-se da equação. Parece que o tempo que passou a deambular pelo deserto, como o vemos no início do filme, serviram-lhe para essa revelação.  Mas se a ausência é maior do que a presença, é sobretudo porque temos memória da presença. É sempre a presença, é sempre o corpo, é sempre a imanência. E é engraçado como a memória nos serve, de como ela se torna carne, porque mesmo que já não nos lembremos de nada do que nos faz sofrer, sofremos já indepen

Hitchcock e Lynch

O que é que têm Alfred Hitchcock e David Lynch em comum? Ambos se debruçam sobre o horror. Pegando neste filme de Hitchcock em vídeo representado, North by Northwest, e no filme Blue Velvet, de David Lynch, ambos falam de uma aparente normalidade visitada pela bizarria para depois nos devolverem uma nova normalidade. Mas no caso de Hitchcock, nunca essa bizarria vence sobre as suas personagens, pois elas saem sempre mais fortes. E há uma ideia que prevalece nos filmes de Hitchcock, a ideia de que o amor dá um sentido à vida, e que quando ela parece ter menos sentido, o amor aparece como apaziguador e reconfigurador da vida. Em Lynch, a normalidade é devastada pelo grotesco e nunca mais volta a ser a mesma. Em Blue Velvet, o mal vence. E não é por acaso que no fim do filme, vemos um pássaro a comer um insecto e nos é dada a ideia de que a vida é bela também por isso. Como se a bizarria fizesse parte do belo, ou o Diabo tivesse alguma coisa a dizer sobre o bem. Mas não. O belo é o oposto

Todo um Século

  Há qualquer coisa neste filme que nos diz que, sim, as pessoas regressam ao estado infantil quando mais velhas e que é por isso que as crianças tanto as amam, porque encontram nelas um par, no entanto adulto. Geraldine Page lembra-me a minha avó Teresa, neste filme. Não consigo pôr o dedo em quê. É como que a sentir viva, olhando para Geraldine. Todos os avós são evocados, neste filme. Todo um século de tempo se evolou, avó, com o teu desaparecimento. Todo um século. Tudo agora é tão estupidamente moderno.

Declaração de Intenções

Imagem
"A BELEZA SALVARÁ O MUNDO" Fiódor Dostoiévski, em  O Idiota