Li numa crónica de Bénard da Costa uma ideia que me ficou demasiado redonda na cabeça e demasiado simples: a de que Deus é terrível por ser tão pouco humanamente entendível, foi assim tão pouco complexa que me ficou na cabeça. O texto era um pouco mais do que isto. Havia ainda outra ideia, que simples me ficou, de que o sofrimento humano é muito humano, e que não encontra explicação nas razões divinas. Quis depois saber porque me pareceram estas duas ideias tão fortes. Há o óbvio chutar para canto, que é tão simples como dizer que Deus é insondável, que não se rege pelas nossas razões. E atacando Deus como terrível, defende-se também do ataque as outras qualidades que atribuímos a Deus. Como dizia a minha avó "É mau como as cobras, mas tem bom coração". O que diz isto da minha avó é que também ela atacava de quem gostava, para poder depois gostar dessa pessoa à vontade. Entrava de estalada para depois defender de fazerem mal ao atacado.

E que diz isto da minha avó e de Bénard da Costa, ambos crentes? O que este movimento tem de comum entre os dois é quererem guardar para si as razões que os levam a gostar. Toda a gente entende que se possa ser mau como as cobras. Mas ninguém entende que se o possa ser e ainda assim ter bom coração. O que nos leva ao mistério. E esse era um mistério, estou em crer, também para eles. Ouso dizer que é o mistério de qualquer crente. E é também a pergunta que os ateus recusam fazer, porque os compromete assim que a fazem. E é aqui que entra a fé. Acreditar que Deus é bom apesar de terrível.

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