Normopatas


        A coisa mais anormal nele era, sem dúvida, toda a normalidade com que se apresentava, com que conduzia a vida. Não parecia haver ânsia que o incomodasse, porque não desejava nada a não ser assemelhar-se, dúvida que ignorasse, por não querer saber nada que não soubesse já. Quando ria, procurava rir normalmente, notava-se que controlava a gargalhada. Quando se lhe tirava uma fotografia, nunca, por uma vez, se o apanhou sem estar de sorriso estampado na cara. Se lhe perguntavam se era feliz, dizia a banalidade mais recente que tinha visto sobre o assunto, mascarada de profunda.
Dizia votar em certo partido, porque era da família votar em certo partido. Se ainda se achava que havia mistério e perguntava-se-lhe em que partido tinha votado no dia certo às horas certas, como se quer o voto, respondia que o voto era secreto. E a primeira e segunda coisa não se podiam ligar.
Era de esquerda ou de direita à esquerda porque era da praxe.
        Queria dinheiro, mais do que muito nunca seria demais.
Podia continuar.

Falo do tipificado normopata português com que todos crescemos. Merda para os normopatas. Merda também para os normopatas da diferença.

Viva a diferença normal!

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