A coisa mais anormal nele era, sem dúvida, toda a normalidade com que se apresentava, com que conduzia a vida. Não parecia haver ânsia que o incomodasse, porque não desejava nada a não ser assemelhar-se, dúvida que ignorasse, por não querer saber nada que não soubesse já. Quando ria, procurava rir normalmente, notava-se que controlava a gargalhada. Quando se lhe tirava uma fotografia, nunca, por uma vez, se o apanhou sem estar de sorriso estampado na cara. Se lhe perguntavam se era feliz, dizia a banalidade mais recente que tinha visto sobre o assunto, mascarada de profunda. Dizia votar em certo partido, porque era da família votar em certo partido. Se ainda se achava que havia mistério e perguntava-se-lhe em que partido tinha votado no dia certo às horas certas, como se quer o voto, respondia que o voto era secreto. E a primeira e segunda coisa não se podiam ligar. Era de esquerda ou de direita à esquerda porque era da praxe. ...