Considerações sobre ECCE HOMO
Em Nietzsche, como nunca com Pessoa, não importa tanto o que se lê, importa a violenta transformação que ocorre aquando da leitura. Li ECCE HOMO e fui violentamente transformado, como não tinha sido com Pessoa. Se em Pessoa encontro uma continuação de mim, em Nietzsche sou abanado, sacudido, não sei já quem sou e, contudo, feliz em não o saber. É uma sacudidela existencial, como não podia deixar de ser o que profetiza, com os seus textos, toda uma nova forma de Homem que começa. Nisto, não pode não ser louco. Não pode não ser louco o profeta, como não pode ser o que vê num mundo de cegos. Nietzsche não é ainda o que vê, é o que diz que podemos vir a ver ver. Ele não é Zaratustra, ele circunscreve-o. Imagina-o falar, mas não é ainda ele. Não é Nietzsche que há-de ser entendido nos séculos mais adiante, que ele tanto pede para conhecer -- esses leitores que ele atribuiu, pela faculdade do tempo passado, existirem passado esse tempo --, é Zaratustra que virá a existir comummente, en...