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I Came to Your Party Dressed As A Shadow - Piano Magic

Vim à tua festa vestida de sombra Sem tu nunca saberes, nunca soubeste Deslizei pelos corredores como uma onda de veludo Tão calada quanto um palco vazio Escureci-te os olhos e roubei-te a luz do copo Mas ao raiar da manhã queda e fria Espraiei-me como um papagaio-de-morte na tua relva Vim à tua festa vestida de sombra Sem ser convidada, sem um motivo Arrumei a três ruas da lua A caminhada doce até tua casa num fio prateado Dançavas no jardim ao ritmo de uma lata Furtiva deslizei pelas notas Remetendo-as para a madrugada Isto é sintomático de nós os dois: Tenho cheios frascos do teu hálito Tenho conchas das tuas palavras Mas tu não tens nada meu Senão um espaço onde eu ficaria Tradução de letra da música I Came to Your Party Dressed As A Shadow dos Piano Magic

O Ventura É Ditador

A coisa que mais me deu asco que o Ventura disse pode ser uma surpresa para alguns, já que ele prima por aí. A coisa que mais me deu asco foi ele ter descrito a pessoa que recebe este subsídio como a pessoa que o gasta em uísque e tabaco e drogas, como se fosse uma coisa reprovável e sobre a qual se queira ter controlo. E a coisa que mais me deu asco não tem nada a ver com ser a favor ou contra gastar o dinheiro que se recebe em uísque ou tabaco ou drogas, tem a ver com alguém querer limitar a liberdade de alguém gastar o dinheiro que tem em seja o que for o que lhe dá na real veneta. Isto deve enfurecer qualquer pessoa. Penso, como oposição a isto, no filme de João César Monteiro, em que a personagem João de Deus, ao receber uma quantia choruda oferecida por um louco, que, por ser em dinheiro vivo, torna-se a maquia ainda mais pujante, diz, sinceramente e malandro, que a vai gastar mal gasta. Engraçado que nunca até hoje tinha pensado nisto como mais do que uma piada. E no filme é o q...

Blade Runner

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    "I've seen things... seen things you little people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion bright as magnesium... I rode on the back decks of a blinker and watched C-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate. All those moments... they'll be gone... like tears in the rain. Time to die."     Esta é a fala final de um andróide no filme Blade Runner de que eu muito gosto. Como ele é algo de estranho a um humano, não intuímos isto como vindo de uma pessoa. Mas isto é o final de vida de qualquer pessoa que teve glória e que lamenta que o que viveu se vai perder. Não é a vida senão deixar memória de nós no mundo? Alcançar glória para lá de nós? Não temos todos nós perfeita noção de que a vida é transitória e de que temos de fazer obra? Sejam crianças, construir casas, plantar uma árvore ou simplesmente ser lembrado por quem fomos, seja o que for que demore um pouco mais a desaparecer.      E o facto de dizer "vi coisas qu...

Zorba, O Grego

     Passa-se numa ilha, Creta, em que os intervenientes são bem demarcados, o povo comporta-se como povo estanque, comportamentos em uníssono sempre. Só umas poucas personagens são caracterizadas. O terreno é árido. Tudo ali tem pouca vida. E o mar que circunda a ilha asfixia o espectador. Zorba, o grego, podia estar ali como podia estar em qualquer sítio, porque vai aonde a vida o leva. O inglês que lá vai, vai porque não importa onde está, nunca vive lugar nenhum. O inglês não vive. Vive na redoma em que os livros o cobrem. Zorba tira-lhe os olhos dos livros. E tentam um feito em conjunto.      Com este filme, não é suposto passar-se um bom bocado. Como digo, tudo é árido. Não há nada verde. Nem as árvores são verdes. Tudo está sempre quente. O que o filme quer dizer talvez seja que a vida é árida e que enquanto vamos em direcção ao fim, que arrisquemos viver, que arrisquemos tentar. Mesmo que falhemos. Tentar de novo. Que não nos resta senão tentar. Uma...

OH, FADO! SO NICE!

Engraçado isto. Até há pouco tempo, uma tez como a minha era suficiente para afastar um alemão, um inglês, um americano, etc. Um “pástéle de bacálau”, num esforço heróico de ajustamento vocal à língua do estrangeiro, dito a um deles pelo tasqueiro quando lhe perguntava o que era apontando para o pastel, bastava para afastar qualquer tipo de esperança de vir a comunicar por terras lusas. Era insuficiente para afastar outros que se estavam a lixar para isso, que só queriam tentar a sorte, mas esses não vinham, porque não haviam os alemães, os ingleses, os americanos. Neste momento, a minha tez não é suficiente para os afastar, porque não vêm sozinhos. A minha língua pouco importa porque inglês é a língua franca. Vêm apesar de mim. E nisto está o lisboeta, agrilhoado à solta, como num safari. Os animais do safari sabem que estão num safari? Ou chamam-lhe natureza? Mas não é a natureza. É um safari. A história é escrita pelos vencedores. E nós, lisboetas, já não mandamos em nada nesta cida...

Um Homem Tranquilo - John Ford

     É muito estranho que este filme tenha sido feito. E é estranho não porque é antigo, não porque é datado, o filme não tem um senão: é tão estranho assim porque nos afastámos tanto de um mundo em que filmes destes existam e sejam feitos e também porque não parece o seguimento da História. Seja do cinema, seja dos costumes, seja do que for que este mundo é e que este representado no filme não tem.      O antónimo de mundo é imundo. E neste filme é tão claro que este do filme é um verdadeiro mundo, impoluto, casto mesmo no vício e na errância.       O filme começa por um homem regredido à infância. E volta a casa. E depois eles vêem-se.      Mary Kate precisa de um homem, um lar, filhos para estar completa. Sean precisa do mesmo e, assim que chega, Sean compra uma casa, e, assim que chega, vê a mulher que irá ser a mulher da sua vida, mãe dos seus filhos. Sean pensa que está tudo feito. Mary Kate sabe bem que não é a...
O dia de hoje é cinzento Como podia não ser? Tem cravado um lamento E a mãe manda chover Oh, Nohinha... A quem o evoca A lágrima boa Logo convoca  E da vista coa Não há sol  Não há Noah Há só sal Que abençoa

Os Pássaros e os Velhotes

Há coisas que se mantêm de geração para geração. Ver isso em prática trouxe-me tranquilidade. Cresci a ver velhotes a darem comida a pássaros. Quando era miúdo e assistia a isto, o velho que vi hoje dar comida a pássaros tinha 40 como eu agora.  Ele tem agora 70 e dá também comida a pássaros, como esse velho de 70 que assisti dar comida a pássaros há 30 anos.  Se transpusermos isto para tantos actos, tradições, vontades, traz-me uma grande tranquilidade. Também porque sinto que o mundo está a mudar muito à minha volta. Mas há muita coisa que não muda. Os pássaros todo o dia, nas traseiras de minha casa, esperam pacientemente pelas migalhas do almoço, do lanche, do jantar do velhote. Pássaros pequenos, maiores e maiores ainda, todos esperam pacientemente por estes velhotes. Os vindouros pássaros filhos dos pássaros filhos dos pássaros, nas traseiras da minha casa, algures na minha cidade, esperarão pacientemente por mim, quando tiver 70 anos, para lhes dar migalhinhas do meu la...

Retomando o Tema do Futebol.

Retomando o tema da inveja de muitos: Um triste é triste porque não consegue ser alegre. Um chato é chato porque não consegue interessar. Um imbecil é imbecil porque não sabe ser inteligente. Um pobre é pobre porque não consegue ser rico. Não o contrário. E vocês todos que são bombeiros, agentes imobiliários, actores, escritores, etc. , são-no-lo porque, em primeiríssimo lugar, não tinham jeito para a bola.  Tangas à parte, é isto.

Para as "Pessoas" de Um Pessoano

 Vou falar sobre a não-individualidade dos betos e da individualidade que as pessoas que identificam os outros como betos reclamam para si.  Sempre vi chamarem-me de beto como um insulto. E passo a explicar porquê. Nesta merda letárgica, sofredora e cómica de ser Tiago, nunca vi nenhum beto que se me assemelhasse. Mas quando mo chamam, enfiam-me num saco. Até há pouco tempo percebi que o que mais me chateava não era o saco onde me metiam, era o facto da pessoa que o dizia achar de si própria que não tinha saco nenhum em que se meter, que para ela era reservada toda a complexidade de ser simplesmente pessoa.  Mas foda-se se não sou pessoa também, com toda essa complexidade inerente. 

O Gordo Vai À Baliza

Há pouco estive a ler um justiceiro, falar sobre tanto tema da actualidade, tipificando o "tuga" como o estúpido comezinho que só sabe ver e falar de bola, pouco mais para além disso. Farto de justiceiros. Farto dessa ideia colectiva do que é o português, Portugal não é senão uma ideia colectiva da qual faço parte no particular. Partir do colectivo para o particular-colectivo tipificando o português só lhe retira toda a complexidade.  Tou farto da simplificação para chegar a um argumento, para facilitar uma ideia. Temos de ser particulares. Temos de não ter medo de sermos particulares. E sim, sob pena de ninguém nos entender. E sim, sob pena de nos confundirmos.  Se há coisa que um puto português da minha geração fazia, gostando ou não, era jogar à bola. Esquecemo-nos disso? Que a bola é transversal a todos os putos portugueses? Caguei para quem ia à baliza, caguei para quem levava com as boladas, para quem não conseguia marcar golos, para quem era escolhido em último na form...

Texto Perdido

O meu amor tenta-me controlar.  Parece que tenta, através da não individuação, diluir-se. Não somos nós que nos diluímos, é só ela.  Pelo contrário, afasta-me a mim, faz-me sentir mais a minha vontade. E parece que tem medo da minha vontade.  Que é estar com ela.

Línguas

     Mais do que tudo o que nós possamos saber em quantidade, mais do que o acumular de conhecimento, interessa como o usamos. E isto não é nada fácil de saber, não porque eu ou qualquer outra pessoa - vou-me dar ao luxo de dizer isso, porque acredito que é assim - tenha chegado ao ponto de acumulação de sabedoria em que acha que não precisa de mais, mas porque quem entende isto precisa de se ter libertado dessa avidez. É como aprender uma língua e usar uma língua. Não há nada nas duas coisas que se ligue.

Vertigo (de Alfred Hitchcock)

Revi este filme há uns anos na esplanada da Cinemateca. Uns idiotas riam-se, achavam a música piegas, tudo piegas. Irritou-me solenemente. Não entender a fragilidade da personagem central deste filme é não perceber a nossa própria fragilidade. E não perceber isto é não perceber nada. Um homem apaixona-se. Um homem perde em circunstâncias tenebrosas a amada. O homem tem uma segunda oportunidade. E desta vez ela morre de facto. Quantas vezes numa vida podemos renascer de situações destas? Poucas. Acontece-lhe um milagre. E depois o milagre é-lhe sonegado. É a maior das tragédias. E a música, que aqueles idiotas acharam piegas, é, para aqueles que acompanham a história de facto, apenas as notas do sentimento desbragado, do que tem de invisível, do que roda no coração, do que se irradia quando estamos apaixonados.   

Quadra Para Acompanhar Ramo de Flores

São para ti, meu amor Flores do meu jardim Que te levem toda a dor De estares longe de mim

Texto Perdido

  O sorriso dela é de criança, do que a criança tem de puro, de bom. A vida tirou-lhe a facilidade em o mostrar. Mas não lhe tirou o sorriso. De criança. Às vezes, pergunta alguma coisa também cheia de ingenuidade. De criança. E apetece-me a mim ser criança também e responder com aquele peito cheio, de quem sabe. Mas como uma criança. Pelo meio tornamo-nos adultos e esquecemo-nos de confiar cegamente. Quero dar-lhe a mão e ser o primeiro namorado dela. O primeiro. E único.

Quadra Para Acompanhar Ramo de Flores

     Toma esta flor      Que há-de morrer     Como eu de amor     Se não te tiver 

Elliott Smith - Somebody That I Used to Know

I had tender feelings that you made hard But it's your heart, not mine, that's scarred So when i go home, i'll be happy to go You're just somebody that i used to know You don't need my help anymore It's all now to you, there ain't no before Now that you're big enough to run your own show You're just somebody that i used to know I watched you deal in a dying day And throw a living past away So you can be sure that you're in control You're just somebody that i used to know I know you don't think you did me wrong And i can't stay this mad for long Keeping a hold on what you just let go You're just somebody that I used to know  

Melhor É Impossível

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Catarina pede um elogio depois de Tiago a ofender brutalmente. Tiago promete um elogio, mas não sem antes pedir dois pregos e duas imperiais.    TIAGO Mal passados? CATARINA Pode ser. TIAGO  (grita) Mal passados CATARINA Tenho tanto medo que vás dizer mais coisas horríveis. TIAGO Não sejas pessimista. Não é o teu estilo. Aqui vai...  Eu tenho esta... quê? Condição... E o meu terapeuta - um psicólogo - que costumo ver... ele diz que na minha situação arriscares para te sentires vivo ajuda. Eu odeio arriscar. Odeio mesmo. É uma coisa perigosa, arriscar. Nota que estou a usar a palavra odiar. E o meu elogio, a ti, Catarina Trindade, é que desde que te conheço que, bem, mal durmo, ando às voltas na cama, não tenho sossego, não como, tudo por tua culpa... CATARINA  (confusa) Não percebo qual é o elogio... TIAGO Tu fazes-me querer estar vivo.   Catarina fica embevecida. EMPREGADO DE MESA Olhós preguinhos, um para a senhora e um para o senhor!     ...

Esplendor na Relva

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    O filme chama-se Splendor In The Grass.        É estranho, mas tenho tão pouco a dizer, parece, sobre este magnífico filme. É tão bonito. É importante dizer que ter pouca coisa a dizer sobre este filme diz muito sobre mim e pouco sobre o filme. O filme poderia gerar as mais belas homenagens, mas quando eu estou perante o imensamente belo, a melhor forma que encontro de o respeitar é ficar mudo e contemplar. Dado que não posso mostrá-lo e que a ideia aqui é emular o filme em palavras, vou tentar o meu melhor para que, pelo menos, tenham a curiosidade de ir ver o filme, sendo que aí o filme fará o seu trabalho e vos arrebatará, tenho a certeza.     Não posso falar sobre as minudências do filme. Mas posso dizer que é sobre um rapaz e uma rapariga a caminho de se tornarem homem e mulher. Que nunca vi amor tão puro, tão genuíno como o que eles sentem um pelo outro. Que nós amamos Deanie, mas nunca ousamos sequer querer tirar o lugar a Bud, por...

Sobre as Nossas Limitações

            Quero falar sobre o que nos é proibido. O que eu queria dizer é que nestas coisas que nos limitam as possibilidades de acção, o mais difícil de tudo é aceitar a própria limitação. Eu posso passar uma vida inteira sem comer, sei lá, avelãs, mas se me disserem que não posso comer avelãs a minha vida inteira, então só quero avelãs. E o que eu tenho a dizer é: avelãs não são assim tão boas. É a "satisfação" de comer uma coisa que me é proibida que é boa. É fome do proibido. Assim como não pode existir vida sem a possibilidade de suicídio e sem a possibilidade de morrer, não podemos viver sem a possibilidade de provarmos o proibido ou de alguma coisa nos poder ser proibida. Não podemos viver provando a morte, mas podemos prová-la uma vez. Se é que a provamos. E é engraçado... Quase toda a gente aceita essa suprema limitação, de que não podemos provar a morte e continuar vivos.   Mas já as avelãs? As pequenas coisas que nos são ...

Conto em Construção (II)

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         Chegado ao quarto, tinha as cartas do tal Alexandre sobre a secretária. Pousou as malas, foi ver a revista de poesia da escola e confirmou que havia um rapaz que assinava com esse nome. Apressou-se a abrir as cartas. Na primeira que abriu estava a foto de uma bela rapariga. Dizia:           “Pedro,      Atrevo-me a escrever-te desde aqui de longe, e só assim me atrevo. Conheço de cor os teus versos. Sou uma profunda admiradora deles. Julgo conhecer de cor os teus olhos.      Vi-te no Liceu sem nunca te conseguir falar.      Sou eu Maria Alexandra Soares Paes (Alex Campos é o meu nome de pena), nascida em Lisboa, São Domingos de Benfica. Nasci temerariamente, mas boamente entrei neste mundo. Não julgo saber nada de nada. Vivo na angústia de ter de saber não sabendo. Assim me apresento a ti. Sei que sou tua. Dispõe de mim como quiseres. Alexis” Era uma rapariga que se declarav...

Conto em Construção

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     Quando Pedro ouviu a sua voz pela primeira vez saída de si mesmo, apercebeu-se de como lhe era estranho como os outros o entendiam. Foi num gravador de voz. Cantou. E apercebeu-se de como o seu sotaque não era tão americano assim, de como a sua voz não era tão bonita assim, e não fosse ele lembrar-se exactamente do que tinha dito e de como, e pareceria outro. Depois, numa gravação de vídeo, viu o seu corpo em movimento. Percebeu que pouco controlava o que lhe era externo. E começou a perguntar-se "Quem sou eu?" e sentia um vazio. Não porque ele fosse nada, mas porque ele não era o que controlava, ele era o interno, ele era o imaterial. Uma pedra é, uma pedra é arremessada, uma pedra existe. Também ele era, também ele era arremessado, também ele existia: mas partido, não havia plenitude. E pensava muito. Tanto que a acção deixou de estar ligada intimamente ao que pensava fazer. E escrevia. Escrevia para ver de fora o que lá ia dentro. E passou a ver-se muito ao espe...

Olivia De Havilland Novamente

  Se A Herdeira é um filme brilhante, que dizer de A Minha História ( Hold Back the Dawn) ? Mais uma vez são assunto os inocentes e os injuriados. Explicar porque gosto deste filme é um pouco como explicar uma memória de grande afecto nossa. De um momento em que amámos. Por mais razão que se ponha na explicação, não é com ela que vamos lá. O afecto é indizível. E eu sinto um afecto incomensurável pela memória que tenho da Emmy Brown.   A Emmy Brown está apaixonada. A Emmy Brown só se quer casar. A Emmy Brown foi enganada a isso. E pelo meio, o facínora (o actor Charles Boyer) enobrece-se. Pelo meio, alguém muda. Alguém muda. Com o tempo, as pessoas vão-se conhecendo. Com o tempo, pouco mudam. Tornam-se resistentes à mudança. Mas há quem seja areia de praia e não rochedo. Há quem nunca se defina. Quem fique no limbo e ninguém os conhece verdadeiramente. Nem eles a si próprios. Por isso, muitos dizem que as pessoas não mudam. Mas mudam se abrirem constantemente a por...

O Feitiço do Tempo (Groundhog day) e o Xadrez

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   [ TEXTO PUBLICADO NA AXL - o pedido era que falasse sobre cinema e xadrez ] Vou falar mais uma vez sobre xadrez e sobre um filme que nada tem a ver com xadrez. Aparentemente. Tenho de fazer a minha defesa. O xadrez não é simplesmente um tabuleiro com peças. Não é simplesmente saber fazer a melhor jogada. Não é simplesmente aprender com os erros. Não somos máquinas. E não é simplesmente ganhar um jogo. Gosto muito de xadrez. Apela ao meu lado competitivo. E gosto muito de cinema, sendo essa a minha grande paixão. Pediram-me um texto para publicar na AXL que se calhar não é o mais adequado. É o texto que eu tenho. Se se ajusta digam-me vocês. O filme chama-se “O Feitiço do Tempo” (“Groundhog Day”, 1993; Realização:   Harold Ramis; História: Danny Rubin; Argumento: Danny Rubin e Harold Ramis; Actores: Bill Murray, Andy MacDowell, Chris Elliot). O que acontece no filme é que o protagonista fica preso no mesmo dia. O mesmo dia parece repetir-se. As mesmas acções repet...